SOB CUSTÓDIA - Síndrome do Diploma

29/03/2013 09:01

 

Atualmente, em nossa nação, uma grande quantidade de estudantes vem ingressando em Universidades. Públicas ou particulares, as instituições de ensino superior estão contando agora com um número muito mais expressivo de matriculados do que há 10, 20 anos atrás.

O Enem é um filtro tão largo que possibilita a entrada de múltiplas personalidades dentro das Universidades Federais. Não passou na primeira chamada? Sem problemas, mais 18 já estão a caminho e, caso ainda reste uma vaga, o disque-bicho catadão pode acontecer, levando um pessoal de pontuação um pouco baixa até a almejada vaga. É quase como um time da zona de rebaixamento ser convocado para disputar a Libertadores, pois outras tantas equipes melhores não desejam participar de tal competição.

Se os vestibulares tem algum valor real de avaliação, já discutimos em tópicos anteriores. Em 90 questões um bom candidato, em um dia ruim, pode ter um desempenho abaixo do esperado por todos. É difícil acontecer, mas pode. Ainda que pouco competentes, os meios de avaliação devem dizer alguma coisa sobre os candidatos. Ninguém faz 20 pontos porque está em um dia ruim. Ainda assim, o catadão Federal coloca dentro do meio universitário diversas criaturas de competência duvidosa até mesmo para o duvidoso sistema de avaliação chamado Enem.

A política de integração e aproximação de condições para todo o povo brasileiro não é ruim. Afinal, pelo menos na constituição, consta que todos nós saímos do mesmo ponto de partida. O problema é que se criam as condições de igualdade em um momento muito tardio da vida cidadã. Não investimos em melhores moradias para todo o povo, nem em transportes mais competentes. Se não investimos em infraestrutura básica, obviamente nosso governo também não faz muita coisa para melhorar a condição das escolas públicas e, ainda que fizesse, aluno que viaja 3 horas no lombo de um cavalo para estudar, ou aluno de barriga vazia não produz o suficiente. A equação para resolver a questão da educação básica no Brasil é muito mais complexa do que fazer um punhado de escolas e melhorar o salário dos professores.

Os nossos governantes, porém, pensam que estão compensando a falta de investimento básico aumentando a oferta de vagas no ensino público superior. Um ledo engano, pois a Universidade é lugar de pesquisa, que deveria formar pessoas para a vida acadêmica e não regurgitá-las aos montes no mercado de trabalho. A síndrome do diploma atrasa o desenvolvimento científico do país e destaca ainda mais nossos problemas sociais.

O lugar para formar integrantes do mercado de trabalho deveria ser em um curso técnico. Faculdade é lugar de pesquisador, intelectual, desenvolvedores de nossa nação. O que vemos, entretanto, é uma fábrica de trabalhadores que possuem diplomas de luxo, mas que nem sempre encontram trabalho. O cenário nacional está repleto de diplomas que nem sempre refletem a qualidade de seus donos.

Estou maluco por pensar desta forma? Então a nação mais rica e poderosa da Terra também está. Os Estados Unidos da América cuidam muito bem de seus diplomados, que são pouco comuns. Nem por isso aqueles que não possuem ensino superior estão mal amparados. Criaram-se condições para que todos os cidadãos norte-americanos consigam viver com um relativo alto poder aquisitivo.

Um maior número de universitários não significa um maior desenvolvimento do Brasil, mas um maior número de pesquisadores e intelectuais, isso sim, seria mais útil. Hoje estamos gastando o conhecimento de grandes professores universitários com alunos nem tão promissores.

Falta um projeto nacional. Faltam melhores condições básicas. Falta bom senso, pra variar.