SOB CUSTÓDIA - Os Índios, Nós.

24/03/2013 21:02

 

O ano era 1500 e a grandiosa esquadra portuguesa aproximava-se de uma terra estranha. Cabral, Pero Vaz e mais um monte de lusitanos resolveram estacionar as naus e caravelas em um Porto Seguro que encontraram. Lá, deram de cara com um monte de seres humanos nus, de cara pintada e curiosos com seus novos visitantes.

Em um primeiro momento a convivência foi pacífica. O clima de amizade existente entre as duas culturas parecia mostrar um momento mágico da história mundial, onde os europeus finalmente conseguiriam conhecer uma nova cultura sem destruí-la. Foi, porém, a mais pura ilusão.

Não demorou e os conquistadores usaram da tradicional truculência europeia para impor suas vontades. Ainda que consideravelmente menor que a hecatombe proporcionada pela conquista espanhola, o conquistador português, auxiliado pelo missionário jesuíta, destruiu gradativamente a cultura indígena e o integrou aos costumes da Metrópole.

Mais de 500 anos se passaram, inúmeras tribos foram destruídas ou “civilizadas” (dá no mesmo) e a cultura indígena continua sendo desrespeitada. O país que é fruto da mistura das raças continua privilegiando as vontades e imposições da cultura europeia.

A desocupação do antigo Museu do Índio no Maracanã foi uma tragédia democrática. Alguns índios que resistiam bravamente à tentativa de expulsão sofreram com a ignorância da polícia carioca, que lançou mão de spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo para expulsar os manifestantes em definitivo. Aqueles que resolveram sair pacificamente, agora estão alojados em um hotel onde dividem o espaço com mendigos no período da noite. O problema, entretanto não é a divisão do espaço com os sem-teto, mas é o fato de que aqueles índios possuíam um lar e agora não possuem mais nada.

O futuro da resistência indígena é nebuloso. Alguns dos mesmos manifestantes do Maracanã invadiram o novo Museu do Índio no Botafogo. Provavelmente novas atrocidades com os donos originais de nosso país serão cometidas.

Nesta nação multicolorida, a cor predominante é o branco e todas as outras são apenas pedras no sapato. O legítimo sangue indígena brasileiro não para de escorrer desde os primórdios deste Estado Nacional.

1500, Cabral expulsa os índios. 2013, a história se repete. O mesmo nome, a mesma etnia, a mesma relação de dominação.

Em algum momento de nossa história progredimos? Ou é desde 1500 que essa terra vem regredindo?

Atualmente, fico com a segunda opção.

Ps.: A Carta de Pero Vaz de Caminha (livro) e Xingu (Filme, 2012) mostram o tratamento ao indígena em momentos distintos de nossa história. Vale a pena o tempo gasto.